Assim, a enteroscopia permite a remoção de pólipos, o tratamento de lesões hemorrágicas e a dilatação de estenoses bem como a colheita de fragmentos de tecido (biopsias) para posterior análise.
A enteroscopia é um exame realizado com o doente sob sedação anestésica, tendo a duração de 1 a 2 horas.
O procedimento é realizado com um equipamento chamado enteroscópio, um aparelho similar ao endoscópio ou colonoscópio, sendo mais longo (cerca de 2 metros). O enteroscópio possui na sua extremidade uma fonte de luz e uma câmara de vídeo que irá transmitir imagens ampliadas e de elevada definição para um monitor presente na sala onde o exame é realizado.
Distinguem-se 3 técnicas de enteroscopia: enteroscopia por duplo balão, a enteroscopia de mono-balão e enteroscopia espiral.
Todas elas utilizam um dispositivo (sobretubo) no interior do qual o enteroscópio desliza.
Nas técnicas de enteroscopia com balão, o enteroscópio está ligado a um ou dois balões insufláveis (enteroscopia de mono e duplo balão, respetivamente). A insuflação/desinsuflação do balão(ões) permite a progressão controlada do enteroscópio ao longo do intestino delgado, facilitando a visualização da mucosa.
Na enteroscopia espiral, o sobretubo possui uma porção helicoidal que permite a progressão e estabilização no intestino delgado. Esta técnica de enteroscopia constitui um avanço recente na área da enteroscopia, estando apenas disponível em alguns centros do nosso país.
A introdução do enteroscópio pode ser feita através da boca (via anterógrada) quando se tem por objetiva visualizar o intestino delgado mais perto do estômago (duodeno e jejuno) ou através do ânus (via retrógrada), quando se quer avaliar o intestino delgado mais perto do intestino grosso (íleon).
Após a realização da enteroscopia, o doente é transferido para uma unidade de recobro onde permanece algum tempo até que recupere completamente da sedação anestésica.
Na grande maioria das vezes não é necessário internamento, podendo o doente regressar a casa pouco tempo depois do fim do exame. Contudo, como o procedimento é feito sob sedação, o doente deve fazer-se acompanhar por alguém que lhe possa prestar auxílio e conduzi-lo a casa.
• Para a enteroscopia anterógrada (pela boca) é necessário um jejum de pelo menos 6 horas.
• Para a enteroscopia retrógrada (pelo ânus), é necessária a realização de uma preparação intestinal semelhante à da colonoscopia e que envolve uma dieta livre de resíduos nos 2 dias que antecedem o exame e a ingestão de uma solução de limpeza intestinal, que geralmente é iniciada na véspera do exame (no final da tarde). A preparação provoca dejeções aquosas progressivamente mais claras. Existem várias preparações disponíveis, com diferentes sabores e volumes de água variáveis. A escolha da preparação deve ser adequada a cada doente, nomeadamente tendo em conta a presença de insuficiência renal ou patologia cardíaca. Cada produto é acompanhado do respetivo modo de preparação.
A necessidade de interrupção de medicação que interfere com a coagulação do sangue dependerá do objetivo do exame e das suas doenças cardiovasculares. Assim, deve informar o seu médico de toda a medicação que está a tomar especialmente anticoagulantes (varfarina, acenocumarol, dabigatrano, rivaroxabano,...) ou antiagregantes plaquetares (ácido acetilsalicílico, ticlopidina, clopidogrel, triflusal, dipiridamol,...).
Uma vez que a enteroscopia é realizada sob sedação anestésica, poderão ser necessários exames adicionais e uma avaliação por um médico Anestesiologista.
• Anemia e/ou hemorragia digestiva de causa desconhecida após endoscopias digestivas alta e baixa sem identificação de lesões suspeitas
• Diarreia e dor abdominal crónica de causa desconhecida
• Esclarecimento de alterações identificadas na cápsula endoscópica ou estudos imagiológicos
• Suspeita de tumores do intestino delgado
• Suspeita de doença de Crohn
• Suspeita de estenoses (estreitamento) do intestino delgado
• Tratamento de lesões sangrantes observadas com a cápsula endoscópica (por ex. angiodisplasias, malformações vasculares…).
• Marcação/tatuagem de lesões do intestino delgado, para facilitar a sua posterior localização e remoção cirúrgica.
• Remoção de corpos estranhos (por exemplo, vídeo capsulas retidas).
• Excisão de pólipos do intestino delgado, especialmente em doentes com síndromes polipoides (por exemplo, síndrome de Peutz-Jeghers ou Polipose Juvenil).
• Dilatação de estenoses do intestino delgado (por exemplo, estenoses pós-operatórias; estenoses secundárias a doença de Crohn).
A enteroscopia está contra-indicada ou pode não ser exequível nas seguintes situações:
- Ausência de consentimento informado
- Alterações graves da coagulação
- Patologia cardíaca descompensada (Enfarte agudo do miocárdio recente, arritmias, insuficiência cardíaca descompensada)
- Obesidade mórbida
- Gravidez
- Antecedentes de cirurgias abdominais múltiplas a condicionar aderências intestinais
- Suspeita de perfuração intestinal
A enteroscopia é um procedimento seguro, mas pode ter algumas complicações, particularmente quando se efetuam procedimentos terapêuticos.
Distinguem-se complicações minor, que são autolimitadas e que duram 12 a 24h; e complicações major que são mais graves e que podem necessitar de hospitalização
As principais complicações minor são: náuseas, vómitos, distensão abdominal, dor abdominal, dor de garganta e pequenas hemorragias autolimitadas.
As complicações mais graves incluem perfuração intestinal, hemorragia grave e pancreatite aguda. Geralmente estas complicações são resolvidas com técnicas endoscópicas ou terapêutica médica conservadora, mas, em último recurso, poderá ser necessário realizar uma cirurgia de urgência.
Como em todos os atos médicos interventivos há um risco de mortalidade, embora muito reduzido (menos de 0.1%).
Após uma enteroscopia, o doente deverá estar atento a alguns sinais que podem indicar o desenvolvimento de uma complicação, nomeadamente: febre, dor torácica, dificuldade respiratória, fezes negras, dor abdominal severa e persistente, vómitos e dificuldade em deglutir. Nestas circunstâncias o doente deverá ser novamente observado por um médico.