As lesões da parede do tubo digestivo podem ser malignas, pré-malignas ou benignas. O tratamento endoscópico mais frequente para remoção destas lesões quando são salientes é a polipectomia e quando são planas é a mucosectomia (ver mucosectomia). No entanto, quando as lesões são grandes é difícil a sua remoção completa num único fragmento usando estas técnicas, sendo as lesões removidas em diversos fragmentos. Esta remoção em fragmentos das lesões grandes está associada a uma maior dificuldade da sua avaliação ao microscópio e a um aumento do risco de crescimento posterior da lesão na área da cicatriz.
Por isso desenvolveu-se um novo procedimento endoscópico chamado de remoção endoscópica por dissecção da submucosa. Esta técnica é realizada com o paciente sob sedação ou anestesia geral, em centros especializados. No inicio, é inserido um endoscópio para ver a área afectada. Depois, é injectada uma solução na parede do tubo digestivo para ajudar a elevar a lesão. A lesão é removida usando dispositivos específicos (chamados facas de dissecção). No final é removida a lesão frequentemente num fragmento único. Esta nova técnica torna-se cada vez mais uma alternativa ao tratamento cirúrgico de lesões gastrointestinais não muito avançadas.
- Quais as vantagens desta técnica em relação à mucosectomia?
A dissecção da submucosa permite realizar a ressecção das lesões num único fragmento em mais de 90% dos casos. Tal só ocorre em cerca de 50% dos casos na mucosectomia. As taxas de remoção completa com margens livres também é superior na dissecção da submucosa (mais de 90%), sendo de 30-40% na mucosectomia. A taxa de novo crescimento da lesão após o tratamento é inferior a 3% na dissecção da submucosa e de cerca de 6% nos casos de mucosectomia.
- Quais as possíveis desvantagens desta técnica?
Este procedimento pode estar associado a perfuração (em cerca de 3% dos casos) e hemorragia (cerca de 5% dos casos). As perfurações poderão ser tratadas durante a endoscopia. No entanto, alguns doentes necessitam de cirurgia para tratamento da perfuração. As hemorragias são normalmente moderadas, sendo a transfusão de sangue necessária em poucos casos. Em menos de 1% das dissecções endoscópicas da submucosa pode ser necessário realizar cirurgia para parar a hemorragia.
- A disseção da submucosa pode ser realizada nos diferentes orgãos do tubo digestivo?
Esta técnica pode ser realizada no esófago, estômago, duodeno, intestino grosso e reto, no entanto as taxas de sucesso e de complicações são diferentes nestes diferentes órgãos.
Por favor fale com o seu gastrenterologista para uma descrição mais completa.
Neoplasia do estômago removida por dissecção da submucosa (Figuras 1 a 5):
Figura 1.Neoplasia do estômago
Figura 2. Injeção na submucosa de adrenalina diluida e azul de metileno usando uma agulha
Figura 3. Dissecção da submucosa, sendo visível a camada de musculo que reveste o estômago (a branco), os vasos sanguineos (a vermelho) dentro da submucosa (a azul)
Figura 4. Escara pós ressecção por dissecção da submucosa
Figura 5. Fragmento com lesão removida na sua totalidade
Neoplasia do intestino grosso removida por dissecção da submucosa (Figuras 6 a 9):
Figura 6. Neoplasia do intestino grosso
Figura 7. Dissecção da submucosa, usando uma faca específica
Figura 8. Escara pós ressecção por dissecção da submucosa
Figura 9. Fragmento com lesão removida na sua totalidade