O que é?
O cancro colorretal (ou cancro do cólon e reto ou cancro do intestino) é um tipo de cancro muito frequente. Em Portugal, é o segundo mais frequente nas mulheres depois do cancro da mama e o segundo mais frequente nos homens depois do cancro da próstata, ocupando o primeiro lugar em termos de mortalidade. Pode afetar o cólon ou o reto (coletivamente conhecidos como o intestino grosso). Apesar da semelhança biológica entre os tumores do cólon e do reto, a diferente localização anatómica pode ditar diferenças no tipo de tratamento necessário.
Qual a sua causa e fatores de risco?
O cancro colorretal inicia-se pelo aparecimento de pólipos, que são alterações causadas pelo crescimento anómalo de tecido no intestino grosso que com o tempo crescem e se transformam em cancro. Assim, inicialmente, os pólipos não são malignos e poderão ser removidos por colonoscopia antes de se degenerarem, prevenindo o aparecimento de cancro.
Há vários fatores conhecidos que alteram o risco de desenvolvimento de cancro colorretal. Alguns, como a idade, síndromes genéticas, ou a história familiar de cancro, não podem ser alterados. Outros, conhecidos como fatores de risco modificáveis, incluem o consumo de tabaco ou álcool, a pouca atividade física, a dieta pobre em fibras e a obesidade.
Quais são os sintomas?
Numa fase inicial, o cancro colorretal pode não causar sintomas, o que realça a importância do rastreio (ou seja, fazer um exame sem ter queixas).
Quando causa sintomas, os mais frequentes são:
• Perda de sangue nas fezes;
• Alteração prolongada do padrão habitual do funcionamento do seu intestino (como ter diarreia persistente numa pessoa habitualmente presa dos intestinos ou ter prisão de ventre persistente numa pessoa habitualmente não obstipada);
• Dor de barriga;
• Cansaço fácil, fadiga;
• Perda de peso não intencional.
Este tipo de cancros causa habitualmente perda de sangue no intestino, que nem sempre é visível (as fezes podem parecer normais a olho nu). Ao longo do tempo, essa perda de sangue poderá levar ao aparecimento de anemia.
Os sintomas e sinais referidos podem ser causados por outras doenças para além do cancro no intestino. Assim, é sempre importante consultar o seu médico para determinar qual a causa dos sintomas que apresenta.
Existem complicações?
Sim. As complicações podem desenvolver-se no curso de doença já previamente diagnosticada ou serem as suas primeiras manifestações. O cancro colorretal pode sangrar insidiosamente ao longo do tempo sem que o doente se aperceba condicionando o aparecimento de anemia (diminuição do valor da hemoglobina no sangue) que por sua vez se manifesta geralmente com cansaço. Para além do tratamento dirigido ao cancro poderá ser necessário fazer tratamento com ferro (por via oral ou injetável) ou mesmo transfusões de sangue.
Em casos avançados da doença a lesão pode obstruir completamento o intestino grosso o que origina dor e distensão abdominal. Se tal ocorrer poderá ser necessária uma cirurgia urgente ou a colocação de uma prótese por via endoscópica.
Outra complicação possível é a perfuração do intestino que se manifesta também por dor e distensão abdominal e que condiciona também a necessidade de cirurgia.
Por tudo isto, o cancro colorretal é uma doença potencialmente fatal, demonstrando a importância da sua prevenção, diagnóstico e tratamento precoces.
Por tudo isto, o cancro colorretal é uma doença potencialmente fatal, demonstrando a importância da sua prevenção, diagnóstico e tratamento precoces.
Como se diagnostica?
Há duas situações distintas que devem ser diferenciadas:
1. Na ausência de sintomas, foi já demonstrada a importância do rastreio, de maneira a detetar o cancro em fases precoces, ou mesmo detetar e tratar as lesões (pólipos) antes da formação do cancro (prevenindo o aparecimento do mesmo). Na ausência de história familiar de cancro colorretal em familiares de primeiro grau, na ausência de síndromes genéticas que aumentem o risco de cancro do intestino e na ausência de um diagnóstico de doença inflamatória do intestino (doença de Crohn/colite ulcerosa), este rastreio está recomendado para os cidadãos assintomáticos com idade entre os 50 e os 74 anos.
Há vários exames que podem ser usados para o rastreio; os de 1.ª linha são a pesquisa de sangue oculto nas fezes por método imunoquímico (FIT) e a colonoscopia. Se a pesquisa de sangue oculto nas fezes for positiva, ser-lhe-á recomendada a realização de uma colonoscopia. Em Portugal, o método escolhido pelo Ministério da Saúde é a pesquisa de sangue oculto nas fezes por FIT, seguido de colonoscopia nos casos positivos e foi já demonstrada a custo-eficácia desta estratégia.
Havendo diferenças entre estes 2 métodos, o mais importante é que faça o seu rastreio do cancro colorretal! Assim, consulte o seu Médico assistente para decidir o método mais aplicável no seu caso.
Pode consultar os seguintes documentos para mais informação: parecer SPED (atualizado em 2023) | despacho do Secretário de Estado do Ministério da Saúde (2017).
2. Na presença dos sintomas referidos previamente, dependendo da avaliação pelo seu médico, poderá ser recomendada a realização de colonoscopia (a pesquisa de sangue oculto nas fezes não é adequada na presença de sintomas). Este exame permite o diagnóstico do cancro colorretal, nomeadamente através da realização de biopsias, imprescindíveis para a caracterização e diagnóstico definitivo destes tumores. Se os sintomas forem causados por pólipos e não cancro, estes poderão ser removidos durante essa colonoscopia. Uma alternativa é a colonografia por TAC que permite também o diagnóstico do cancro colorretal; no entanto, geralmente é necessária a realização posterior de uma colonoscopia para realização de biopsias.
Após o diagnóstico de um cancro colorretal, poderão ser solicitados outros exames como uma tomografia computorizada (“TAC”) ou ressonância magnética para melhor caracterização e estadiamento do tumor.
E se eu tiver história familiar de cancro colorretal, uma síndrome genética que aumente o risco deste cancro ou doença inflamatória intestinal?
No caso de história de cancro colorretal em familiares de primeiro grau (pais, irmãos, filhos), sabe-se que há um risco acrescido de desenvolvimento deste cancro. Este risco acrescido parece ser função do número de parentes acometidos por esta doença e da idade em que o tumor é diagnosticado, sendo superior nos indivíduos com um maior número de casos de cancro colorretal e com uma menor idade de diagnóstico de cancro colorretal na família.
Assim, de acordo com as recomendações da European Society of Gastrointestinal Endoscopy (2019), todos os indivíduos que tenham:
• Pelo menos 2 familiares de primeiro grau com cancro colorretal ou
• Um familiar de primeiro grau com diagnóstico de cancro colorretal antes dos 50 anos
devem ser alvo de uma vigilância mais apertada do que a população em geral. Nestes casos, o exame de eleição é a colonoscopia, com o primeiro exame realizado aos 40 anos de idade.
Na presença de uma síndrome genética (ex.: síndrome de Lynch ou polipose adenomatosa familiar) que aumente o risco de cancro colorretal, recomendamos o seguimento numa consulta especializada de maneira a que lhe sejam realizados os exames e tratamentos necessários com a periocidade determinada pela sua doença de base.
Se tiver doença inflamatória intestinal (doença de Crohn ou colite ulcerosa) o risco de cancro colorretal é dependente de vários fatores, como localização da doença, idade do diagnóstico e doenças associadas. Na consulta especializada de seguimento, o seu médico determinará a melhor altura e periocidade para rastreio de cancro colorretal.
Como se trata?
O tratamento do cancro colorretal vai depender de vários fatores, dos quais se incluem o estadiamento da doença (o grau de compromisso da doença a nível local, regional e à distância) e o estado geral do doente, incluindo outras doenças que possa ter.
Existem várias modalidades disponíveis, que passam por tratamentos endoscópicos (definitivos ou paliativos), cirúrgicos, quimioterapia e radioterapia, que são muitas vezes combinados. A melhor estratégia de tratamento para cada caso individual é proposta ao doente após reuniões multidisciplinares (incluindo médicos de várias especialidades como Gastrenterologia, Cirurgia, Oncologia Médica, Radioterapia, Anatomia Patológica e Imagiologia), salvo em situações emergentes.
O Cancro colorretal é uma doença frequente e que pode ser fatal. No entanto, o seu diagnóstico precoce pode salvar a sua vida e pode até ser prevenido se os pólipos que lhe dão origem forem removidos antes de se transformarem!