Os divertículos são pequenas bolsas que se formam na parede do tubo digestivo, sendo a sua ocorrência mais frequente no intestino grosso (cólon) e nos países ocidentais. A presença de múltiplos divertículos designa-se por diverticulose.
A diverticulose apenas por si não deve ser considerada uma doença e a denominação de doença diverticular implica a presença de sintomas relacionados com os divertículos.
Os divertículos desenvolvem-se por protusão da camada interna do tubo digestivo, através de pontos de fraqueza da parede do cólon. Esse “empurramento” ocorre em períodos de aumento de pressão no interior do cólon devido a espasmos musculares ou esforço anormal na defecação.
Os seguintes fatores de risco foram associados à existência de divertículos:
- Envelhecimento: O risco de aparecimento de divertículos aumenta com a idade, podendo atingir até 60% dos indivíduos com 60 anos;
- Sexo masculino: A diverticulose apresenta uma clara preponderância pelos homens;
- Dieta: Tradicionalmente, o desenvolvimento de diverticulose foi associado a uma dieta pobre em fibras mas estudos recentes têm questionado esta associação. Contudo, uma dieta pobre em fibras e com elevado consumo de gorduras e carnes vermelhas associa-se a doença diverticular. O consumo de sementes, nozes, milho ou pipocas não tem associação com o risco de diverticulose, tendo mostrado até um papel protetor no desenvolvimento de complicações;
- Obesidade: Existe um risco linear entre o aumento do peso e a ocorrência de divertículos e suas complicações;
- Sedentarismo: A atividade física aparenta ter uma função protetora no desenvolvimento de complicações;
- Fatores genéticos: Os estudos científicos sugerem uma predisposição genética para esta alteração, embora os genes e os mecanismos ainda não estejam identificados.
Os divertículos, habitualmente, não condicionam sintomas.
Na doença diverticular, as queixas mais frequentemente reportadas são:
- Dor abdominal intermitente, localizada sobretudo no quadrante inferior esquerdo, que pode ser agravada pela ingestão de alimentos e aliviada pela defecação;
- Distensão abdominal;
- Alterações do trânsito intestinal como obstipação ou episódios esporádicos de diarreia ou uma alternância entre os dois padrões.
No entanto, os sintomas da doença diverticular não complicada não são específicos e são semelhantes aos observados nos indivíduos que apresentam uma doença denominada síndroma do intestino irritável, pelo que, a sua relação com a doença diverticular ainda não está completamente estabelecida.
A doença diverticular pode associar-se a complicações, nomeadamente diverticulite aguda ou crónica ou hemorragia diverticular.
A diverticulite é um processo onde se verifica a inflamação de um ou mais divertículos e desenvolve-se em 1-4% dos indivíduos com diverticulose. A causa desta inflamação não é totalmente clara. Como referido anteriormente, o excesso de peso, a falta de exercício físico e o consumo de tabaco, aumentam o risco de diverticulite.
Os sintomas associados a diverticulite aguda são semelhantes aos descritos para doença diverticular mas, habitualmente, são mais intensos e podem acompanhar-se de febre. A gravidade do processo inflamatório é variável, classificando-se como diverticulite aguda complicada quando a inflamação se estende além da parede do intestino, podendo levar ao desenvolvimento de abcesso ou perfurações da parede do cólon. O tratamento depende da gravidade subjacente podendo tratar-se com alterações alimentares e antibióticos em casos ligeiros e, nos casos mais graves, necessitar de cirurgia.
Quando a inflamação aguda não resolve completamente, pode desenvolver-se um cenário de inflamação crónica, denominado de diverticulite crónica. Por vezes, pode ocorrer o desenvolvimento de cicatrizes no intestino que levam a zonas de “aperto” chamadas estenoses.
A hemorragia diverticular ocorre por rotura dos vasos existentes no interior dos divertículos. Manifesta-se, normalmente, como sangue vivo misturado nas fezes sem dor abdominal associada. Pode ser uma hemorragia ligeira e auto-limitada ou uma hemorragia mais grave.
Os divertículos podem ser detetados em exames endoscópicos (colonoscopia ou sigmoidoscopia) ou imagiológicos. A tomografia computorizada abdominal é o exame mais utilizado, sobretudo no serviço de urgência quando há suspeita de complicações. No entanto, a ecografia abdominal e a ressonância magnética abdominal constituem alternativas, especialmente úteis em grávidas.
Na maioria dos casos de diverticulose, este achado é acidental em exames realizados por outros motivos.
A diverticulose, sendo uma condição que não se associa a sintomas, não necessita de qualquer tratamento ou vigilância.
O tratamento das queixas associadas aos divertículos é semelhante ao das queixas associadas a síndroma do intestino irritável e baseia-se no aumento do conteúdo de fibra na dieta, utilização de laxantes quando existe obstipação subjacente ou de medicamentos que reduzem os espasmos intestinais.
Recomendam-se também perda de peso e prática de exercício físico regular, pelo que anteriormente foi referido.