Ecoendoscopia: avanços e aplicações na Prática Clínica

Por Dr. Pedro Bastos, Médico Gastrenterologista, HOSPITAL CUF Porto.


ecoendoscopia, também conhecida como ultrassonografia transendoscópica, é uma técnica inovadora que combina a endoscopia digestiva convencional com a ecografia, permitindo uma avaliação detalhada das camadas da parede do tubo digestivo e das estruturas adjacentes. Este exame tem revolucionado a prática clínica, proporcionando diagnósticos mais precisos e a possibilidade de procedimentos terapêuticos minimamente invasivos.

Definição e Diferenciação da Endoscopia Convencional

A ecoendoscopia é realizada através da introdução de um endoscópio equipado com um transdutor de ultrassom, permitindo assim a visualização detalhada do esófago, estômago e duodeno, bem como de órgãos próximos, como o fígado,  o pâncreas e as vias biliares. É diferenciado da endoscopia convencional, que apenas permite a inspeção da superfície da mucosa. A ecoendoscopia oferece uma visão aprofundada da parede digestiva, permitindo a caracterização de lesões subepiteliais e a avaliação da extensão de neoplasias do tubo digestivo.

Indicações Clínicas

A ecoendoscopia é indicada para um conjunto de situações, incluindo:

  • Avaliação de lesões subepiteliais do esófago, estômago e duodeno;
  • Diagnóstico citohistológico e estadiamento de neoplasias pancreáticas e das vias biliares;
  • Avaliação de quistos pancreáticos;
  • Estudo de adenopatias peridigestivas e torácicas;
  • Diagnóstico de patologias anorretais, como fístulas perianais e incontinência fecal;
  • Estadiamento de neoplasias esófago-gástricas e do recto;
  • Estudo e realização de biópsia de qualquer lesão adjacente ao tubo digestivo superior.

Vantagens da Ecoendoscopia

Quando comparada com outros métodos de imagem, como a tomografia computadorizada (TAC) e a ressonância magnética (RMN), a ecoendoscopia apresenta algumas vantagens, sendo frequentemente uma procedimento complementar a estes métodos:

  • Imagens de alta resolução: maior proximidade dos órgãos em estudo, resultando em maior detalhe;
  • Biópsia guiada: permite recolher material para análise bioquímica, citológica e histológica;
  • Elastografia: avaliação da elasticidade tecidular para caracterização de lesões;
  • Doppler e contraste intravascular: Estudo do fluxo sanguíneo em tempo real

Procedimentos Terapêuticos
A ecoendoscopia não se limita ao diagnóstico, oferecendo também algumas opções terapêuticas minimamente invasivas, tais como:

  • Drenagem de colecções e abcessos: tratamento de complicações da pancreatite  aguda ou infecções intra-abdominais;
  • Drenagem biliar: tratamento da obstrução biliar, geralmente de etiologia maligna;
  • Neurólise do plexo celíaco: alívio da dor em casos oncológicos;
  • Ablação por radiofrequência: tratamento de pequenas lesões, como tumores neuroendócrinos.

Segurança do Procedimento

A ecoendoscopia é considerada um procedimento muito seguro, com um risco de complicações reduzido. Os principais riscos incluem:

  • Complicações relacionadas à sedação (anestesia);
  • Perfuração (risco muito baixo com os equipamentos modernos);
  • Hemorragia, principalmente após biópsias (1 a 2% dos casos);
  • Pancreatite, geralmente ligeira, nos casos de punção pancreática.

Preparação e Recuperação

A preparação para a ecoendoscopia é semelhante à de uma endoscopia convencional, exigindo jejum prévio (geralmente 6 a 8 horas para exames por via oral) e ajuste de medicação (caso exista) dos anticoagulante e antiagregantes. O pós-procedimento inclui um período de recuperação curto, permitindo ao paciente voltar para casa no mesmo dia e retomar as suas atividades habituais.

Conclusão
A ecoendoscopia é uma ferramenta fundamental na gastroenterologia moderna, combinando a alta precisão diagnóstica com as opções terapêuticas minimamente invasivas. O avanço tecnológico contínuo promete expandir ainda mais as suas aplicações, consolidando-se como um exame de referência para o diagnóstico e tratamento de diversas patologias digestivas.

Fevereiro de 2025


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